terça-feira, 16 de junho de 2015

ESCURIDÃO E SILÊNCIO











INQUIETUDE ou A RUPTURA DA CONFORMIDADE



Não quero ser a vanguarda triste que ficou prá traz
Nem a vertigem fraca daquele que não quer pular
Busco na estética do ruído, a suavidade da distorção,
o perfume dos sentidos, as paisagens expostas do espírito inquieto

Quero calar o silêncio e eternizar meu grito num instante,
buscar o contrário de tudo no que é inverso,
Andar por cima do muro entre dois mundos girando a tontear

Mas não quero afastar a tristeza da decadência,
A intimidade da solidão, e a companhia dos anjos caídos,
Os fantasmas que voltaram a viver e o luto sentido e cruel da perda

Quero a descontinuidade da plenitude, a ruptura da forma,
A transgressão da verdade dada, a liberdade do vento contrário
e não ser vencido pela força ou pelo costume.
Quero notas dissonantes em pinturas abstratas

Não me acostumo a sujeição, ao canto amordaçado
E a obediência a opressão –

Quero a verdade de meus erros com a dor que dilacera,
Minhas mentiras e contradições expostas nuas,
E sentir a vertigem da queda que não quer parar.


JARDINS LISÉRGICOS


Ela busca encontrar razões
Deitar na seda azul do céu
E compartilhar das Memórias de Deus
Dançar com os anjos
E afastar a angústia da morte.

A consciência dança na experiência
Verdades claras se apagam no instante seguinte
Mergulho no sonho, e a realidade permite voar
Alem de teu mundo
Está o que não se compreende

A dor se cala – silêncio
Canções de cores -  Ecos, amores e flores
Tua voz diz segredos, e do ontem me encontras no hoje
E a vida é o fato, e a foto me fala e compreende

A serpente me abraça e canta
Ouço a voz e como seus frutos –
A queda da alma, A queda do corpo e o torpor,
O medo e o dragão,
O círculo e as asas me levam...

Onde não sei...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

ANA


Brinca de brincar tão leve a vida,
Venta o vento, beija o sol
Flerta com a lua mais distante,
Vive o instante, e não está só.

Leva na bagagem  despedidas,  
Mil amores, reencontros -  desencontros, pratos prontos
Sabe que a vida é o caos incerto,
Tá tudo certo, ela vai viver –

Ana e seu gato vivem a noite,
Ana Mais um trago - um longo afago,

Ana e seu gato - Um beco, a rua,
Ver a lua de um telhado.

Ana e seu gato - Um beco, a rua,

travessias, aventuras.

FOTOGRAFIA



Da janela de meu computador
Vejo  Gisele flutuando no ar -
Um movimento de dança na realidade congelada
Enquanto a vida passa e pulsa

E o passo e pulso dela,
No que me é estático,
É seu presente,

eterno instante em uma foto colorida.

DONA MIRACI


DONA MIRACI

Dona Miraci foi ao mercado
Estranhamente vestindo uma roupa de diabo,
Cabelo cor de ouro, perfume de enxofre.
A saia justa, num vermelho em couro,

pernas desnudas de unhas negras afiadas,
e seu rabo apontando
para os pés de cabra (que querem dançar )

 Dr  Lepchak  extrai  cérebros,
Degusta desde cedo, com  leite e  café
 remédios coloridos –
 num céu com vários sóis
Psicotrópicos para um dia feliz,

Psiques confusas com sorrisos bobos,
lobotomias sinceras
abrem a porta de um país das maravilhas,
onde  Alice e seu Gato gargalham o  sentido da vida.

Agora ele usa um perfume de formol francês -
num traje de alvo branco cirurgião
e num necrotério – estante de carnes cruas.
Faz compras,  sonha com o amor

E eles  querem o afago sincero das mãos do monstro –
a unha  que arrepia o pescoço,
um rodar perturbado em  insanos carroceis-
até que o mundo gire ao contrário,
e os girassóis de Van Gogh

sejam as flores de um novo encontro.

APARTAMENTO



Em  nosso  apartamento  no centésimo andar,
Vejo a cidade que  eclode em contradições,
As flores vivas na varanda , e os sonhos crescem
Sob uma clara luz.

A velha vitrola recita os versos raros de Cazuza,
E o novo disco dos Surrealistas tem dois Incríveis lados B
No apartamento, Folia, Febre e Sol–
cumplicidade  não comporta ausência.

Você me atrai como as órbitas celestes,
ofegante e pleno, vejo no teto o vasto céu noturno,
és estrela de primeira grandeza,
Que num toque tênue do olhar,
Me acorda em dimensões
Que eu nem mesmo sei.

A sede dos beijos nas bocas cansadas,
a subversão cúmplice de amantes impossíveis.
os sentidos  frágeis e intensos,
e o  silêncio cansado de dois,

No apartamento,
No apartamento.
No apartamento.